Um estudo sobre as diferenças e as semelhanças entre os canhotos e os destros na infância
Introdução
A lateralidade manual é a preferência por usar uma das mãos para realizar a maioria das atividades que exigem destreza e precisão, como escrever, desenhar, cortar, etc.
A lateralidade manual dominante se estabelece entre os 3 e os 6 anos de idade, e é influenciada por fatores genéticos, ambientais e culturais.
A maioria das pessoas é destra, ou seja, prefere usar a mão direita, enquanto cerca de 10% da população é canhota, ou seja, prefere usar a mão esquerda.
Ser canhoto ou destro pode ter implicações no desenvolvimento cognitivo das crianças, ou seja, na forma como elas aprendem, pensam, resolvem problemas, se comunicam e se relacionam com o mundo.
Algumas pesquisas sugerem que os canhotos e os destros apresentam diferenças na estrutura e na função do cérebro, que podem se refletir em vantagens ou desvantagens em certas habilidades cognitivas, como a linguagem, a memória, a criatividade, a inteligência, etc.
No entanto, essas diferenças não são absolutas, e podem variar de acordo com o indivíduo, o contexto e a tarefa.
Além disso, existem também semelhanças e pontos em comum entre os canhotos e os destros, que indicam que a lateralidade manual não é o único fator que determina o desenvolvimento cognitivo das crianças.
Neste artigo, vamos apresentar os principais conceitos e as principais teorias sobre a lateralidade manual dominante das crianças canhotas e o seu desenvolvimento cognitivo, bem como os resultados de alguns estudos empíricos que investigaram essa relação.
Também vamos discutir as implicações educacionais e sociais de ser canhoto ou destro na infância, e as possíveis formas de estimular e respeitar a diversidade de perfis cognitivos das crianças.
Lateralidade manual e cérebro
O cérebro humano é dividido em dois hemisférios, o esquerdo e o direito, que se comunicam por meio de um feixe de fibras nervosas chamado corpo caloso.
Cada hemisfério é responsável por processar diferentes tipos de informação, e por controlar o lado oposto do corpo.
Por exemplo, o hemisfério esquerdo é mais envolvido na linguagem, na lógica, na matemática e na análise, e controla o lado direito do corpo.
Já o hemisfério direito é mais envolvido na percepção espacial, na música, na arte, na emoção e na síntese, e controla o lado esquerdo do corpo. Essa divisão de funções é chamada de lateralização cerebral.
A lateralização cerebral não é igual em todas as pessoas, e pode variar de acordo com o sexo, a idade, a cultura, a educação e a lateralidade manual.
Em geral, os destros tendem a ter uma lateralização cerebral mais acentuada, ou seja, uma maior especialização de cada hemisfério para certas funções.
Já os canhotos tendem a ter uma lateralização cerebral mais flexível, ou seja, uma maior integração e comunicação entre os hemisférios.
Isso pode significar que os canhotos e os destros utilizam diferentes estratégias e recursos cognitivos para realizar as mesmas tarefas, e que podem apresentar diferentes níveis de desempenho em diferentes domínios cognitivos.
Lateralidade manual e desenvolvimento cognitivo
O desenvolvimento cognitivo é o processo pelo qual as crianças adquirem, organizam, modificam e aplicam o conhecimento sobre o mundo.
Esse processo envolve diversas habilidades cognitivas, como a atenção, a percepção, a memória, a linguagem, o raciocínio, a resolução de problemas, a criatividade, a inteligência, etc.
Essas habilidades são influenciadas por fatores biológicos, como a genética, o cérebro, o sistema nervoso, os hormônios, etc., e por fatores ambientais, como a família, a escola, a cultura, a sociedade, etc.
A lateralidade manual é um desses fatores, que pode afetar o desenvolvimento cognitivo das crianças de forma positiva ou negativa, dependendo de como é valorizada, estimulada e respeitada.
Existem diversas teorias e pesquisas que tentam explicar e comprovar a relação entre a lateralidade manual e o desenvolvimento cognitivo das crianças.
Algumas delas são:
A teoria do cérebro direito dos canhotos
Essa teoria propõe que os canhotos têm uma maior atividade e uma maior capacidade do hemisfério direito do cérebro, o que lhes confere vantagens em habilidades cognitivas relacionadas à percepção espacial, à música, à arte, à emoção e à criatividade.
Ela se baseia na observação de que muitos artistas, músicos, escritores, inventores e líderes famosos são ou foram canhotos, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Mozart, Beethoven, Einstein, Newton, Gandhi, Obama, etc.
A teoria da inteligência dos canhotos
Essa teoria propõe que os canhotos têm uma maior inteligência do que os destros, medida por testes de QI (quociente de inteligência). Ela se baseia na hipótese de que os canhotos têm uma maior integração e uma maior comunicação entre os hemisférios cerebrais, o que lhes permite usar mais recursos cognitivos e resolver problemas mais complexos.
Ela também se apoia na observação de que muitos gênios, cientistas, filósofos e pensadores são ou foram canhotos, como Aristóteles, Platão, Descartes, Kant, Darwin, Freud, etc.
A teoria da desvantagem dos canhotos
Essa teoria propõe que os canhotos têm uma desvantagem em relação aos destros em habilidades cognitivas relacionadas à linguagem, à lógica, à matemática e à análise.
Ela se baseia na hipótese de que os canhotos têm uma menor atividade e uma menor capacidade do hemisfério esquerdo do cérebro, o que lhes dificulta o processamento e a expressão verbal e numérica.
Também se sustenta na observação de que muitos canhotos apresentam dificuldades de aprendizagem, dislexia, disgrafia, discalculia, etc.
No entanto, essas teorias e pesquisas não são conclusivas, e apresentam muitas limitações, contradições e inconsistências.
Por exemplo, nem todos os canhotos são criativos, inteligentes ou têm dificuldades de aprendizagem, e nem todos os destros são o contrário.
Além disso, existem muitos fatores que podem interferir nos resultados dos testes e das medidas de desempenho cognitivo, como a motivação, a atitude, a autoestima, o estresse, a ansiedade, a expectativa, o feedback, o ambiente, etc.
Portanto, não se pode afirmar que a lateralidade manual determina o desenvolvimento cognitivo das crianças, mas sim que ela pode influenciar de forma moderada e variável, dependendo de cada caso.
Lateralidade manual e educação
A educação é um dos principais fatores que afetam o desenvolvimento cognitivo das crianças, pois é o meio pelo qual elas adquirem e constroem o conhecimento, desenvolvem as habilidades, expressam as potencialidades, interagem com os outros e se inserem na sociedade.
A educação também é um dos principais fatores que afetam a lateralidade manual das crianças, pois é o meio pelo qual elas aprendem a usar a mão dominante para realizar as atividades escolares, como escrever, desenhar, recortar, etc.
Por isso, é fundamental que a educação respeite e estimule a diversidade de lateralidade manual das crianças, reconhecendo as diferenças e as semelhanças entre os canhotos e os destros, e proporcionando condições adequadas para o desenvolvimento de ambos.
Algumas das ações que podem ser realizadas na educação para favorecer a lateralidade manual das crianças são:
- Observar e identificar a preferência manual das crianças desde cedo, sem forçar ou induzir a mudança de mão.
- Oferecer materiais e instrumentos adaptados para os canhotos, como tesouras, lápis, canetas, cadernos, etc., que facilitem o manuseio e a execução das tarefas.
- Orientar os canhotos sobre a melhor forma de segurar e posicionar a mão, o braço, o corpo e o papel na hora de escrever, desenhar, recortar, etc., para evitar a fadiga, a tensão, a dor, a torção e a má postura.
- Evitar a comparação, a crítica, a discriminação, o preconceito e a ridicularização dos canhotos, e valorizar a sua singularidade, a sua originalidade, a sua criatividade e a sua capacidade.
- Incentivar a cooperação, a colaboração, a interação e a troca de experiências entre os canhotos e os destros, e promover a aceitação, a tolerância, o respeito e a convivência harmoniosa entre eles.
Conclusão
A lateralidade manual dominante das crianças canhotas e o seu desenvolvimento cognitivo são temas complexos e fascinantes, que despertam o interesse e a curiosidade de muitos pesquisadores, educadores, pais e da própria sociedade.
A lateralidade manual é um fenômeno biológico, psicológico, social e cultural, que pode afetar e ser afetado pelo desenvolvimento cognitivo das crianças, de forma positiva ou negativa, dependendo de como é compreendido, valorizado e estimulado.
A educação é um dos principais meios de intervenção e de promoção da lateralidade manual das crianças, e deve respeitar e estimular a diversidade de perfis cognitivos dos canhotos e dos destros, reconhecendo as suas diferenças e as suas semelhanças, e proporcionando condições adequadas para o desenvolvimento de ambos.
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