Catadora de materiais recicláveis diz que mãe tentou fazer com que mudasse. Suely diz que é comum as pessoas se espantarem com a forma que escreve.
Sempre que a catadora de materiais recicláveis Suely Souza Almeida, de 38 anos, vai assinar ou preencher um documento alguém se espanta pela forma que escreve.
Ela vira a folha de papel e começa escrever. “Quando me dão uma ficha para assinar, por exemplo, colocam na posição certa e eu viro, até eles concordarem. Daí eu mostro que vai sair certinho do jeito que eles querem”, afirmou a mulher, que mora em Cuiabá.
Há mais de 30 anos e de forma natural, ela escreve com o papel virado de cabeça para baixo. A caligrafia é legível e quem vê não diria que as letras foram escritas de ponta-cabeça. Quando desvira o caderno, o que escreveu fica certo. A leitura é feita de forma tradicional.
A mãe da Suely, a Juliana Pereira de Almeida, lembra que fez de tudo para que a filha escreve da forma tradicional. “Tentava amarrar a mão dela, brigava, batia na mão dela e ela continuava do mesmo jeito”, relembra a mãe.
Suely frequenta as aulas da educação para adultos para concluir o ensino fundamental e médio. O jeito de escrever chamou a atenção dos colegas. “Me surpreendi quando vi ela escrevendo a primeira vez. Achei muito bonito”, disse a catadora Ana Natalina Santos Silva.
Os anos se passaram e Suely não sabia porque escrevia assim. Então, a psicopedagoga, Roberta Pimentel fez uma avaliação. “Eu nunca tinha visto pessoalmente [um caso como esse]. Foi a primeira vez, a não ser em estudos e pela internet”, disse.
No primeiro teste, ela teve que montar peças igual ao modelo escolhido pela profissional. O resultado foi que a Suely montou as peças invertidas. “Ela começou a montar e veio com a total funcionalidade típica do cérebro dela.
Ela montou invertido perfeitamente que é o que o cérebro dela faz para escrever, predomina do lado direito e ela escreve com mão esquerda.” explicou a psicopedagoga.
Em seguida, ela testou qual mão ela usa nas atividades de rotina, como, por exemplo, fechar potes e colocar comida dentro deles. O teste revelou que a mão esquerda ela usa para atividades.
Assim como a mão, ela usa o pé esquerdo para chutar. “O cérebro dela encantador achou um caminho, uma solução. Estavam tentando puni-la e ela arrumou um caminho: escrever de ponta cabeça. É natural da riqueza do cérebro”, disse a profissional.
Com o resultado de que escreve apenas de forma diferente e que isso não é uma anormalidade, Suely disse se aceitar da maneira como é. “O que eu acho legal de tudo isso é que me aceitei do jeito que sou”, contou.